Comércio Editorial

Ônibus faz sucesso vendendo hambúrguer sem sair do lugar

Expandir um modelo de food truck não-itinerante em espaços ociosos de bairros nobres (e aluguel mais barato) foi a sacada do empreendedor Rodrigo Arjonas para potencializar a marca Busger

Imagine um food truck que quebra no meio da estrada a caminho de um evento sobre comida de rua na cidade de Lindóia (158 km da capital paulista). E, sem perder o humor (e muito menos a oportunidade), o dono do negócio – o empreendedor Rodrigo Arjonas – avisa pelo Facebook e começa a vender hambúrgueres ali mesmo. Com o buzz instantâneo e a fila crescente, a constatação: a lanchonete móvel vendeu muito mais porque estava…parada.

Foi com essa sacada que o Busger, hoje uma rede de hamburguerias com as cozinhas montadas dentro de ônibus antigos, conseguiu potencializar sua marca e fomentar sua expansão através do franchising alugando espaços ociosos em locais nobres de São Paulo, como Chácara Klabin, Jardins, Vila Madalena, Santana e na região do ABC.

E o melhor: pagando a metade do aluguel do ponto, ao negociar a instalação das lanchonetes em espaços ociosos que não eram ocupados há um certo tempo por conta da crise, como estacionamentos. De quebra, conseguiu contornar os altos custos de ocupação, problema que vira e mexe incomoda comerciantes de qualquer ramo.

Mas, assim como muitas outras que deram certo, a ideia de Rodrigo surgiu em plena crise, em 2014. “Eu tinha uma distribuidora de equipamentos para construção civil. Mas a crise veio, e esse mercado parou”, lembra. “Como era a época do boom dos food trucks, comecei a achar interessante a ideia de mudar de ramo.”

Com “trauma de pagar para vender mercadorias”, conforme diz, Rodrigo passou a analisar o mercado, a concorrência que teria, e viu que todo mundo que queria vender comida de rua seguia para o mesmo ponto: trabalhar com trucks menores.

“Foi quando eu pensei em fazer o contrário: vou comprar o maior veículo possível, para chamar mais atenção que os demais nos eventos de comida de rua em que eu levá-lo”, conta. E comprou o primeiro ônibus, daquele tipo escolar de aparência vintage, popular nos Estados Unidos.

RODRIGO ARJONAS, DO BUSGER: O MELHOR DA COMIDA DE RUA NO CONFORTO DAS LANCHONETES TRADICIONAIS

Ainda sem saber muito o que fazer, apenas que trabalharia com alimentação, Rodrigo começou a pesquisar comidas diferenciadas, como vegana, com proteína whey e fit. Mas, como nenhuma fechava a conta, usou seus conhecimentos em economia, área na qual é formado, para montar um plano de negócios. Até que chegou no hambúrguer.

“Entendi que esse seria um negócio de muita liquidez e aceito por todas as classes sociais. Ainda mais quando comercializado de um jeito diferente”, acredita.

Sua noiva, Adrielly, que é chefe de cozinha, elaborou o cardápio em um ano, com base em muitos estudos para chegar a um bom blend de carnes, em um nível melhor do que um de um fast food, “mas com preços que conseguissem atingir todas as classes”, lembra Rodrigo.

A ajudinha de outro chef na equipe – César Gomes, que passou pelo time do jurado do Masterchef, Henrique Fogaça -, foi fundamental para atingir o resultado final.

Da compra do primeiro ônibus até a definição do cardápio e à efetiva inauguração, em julho de 2015, o Busger participava de eventos de food truck em finais de semana e começou a deslanchar rápido. “Percebi que nossa fila era sempre maior que as demais, e reparei que muitas pessoas iam nesses eventos por nossa causa.”

Para ampliar as vendas, Rodrigo e a equipe colocaram o Busger de terça a domingo num ponto fixo na avenida Nazaré, no bairro do Ipiranga (zona sudeste da capital paulista). A ideia durou até novembro daquele ano – ocasião em que o ônibus quebrou e Rodrigo anunciou no Facebook que o Busger estava vendendo hambúrgueres ali mesmo.

“Entendemos que ficar num ponto fixo era melhor do que ser itinerante, tanto em termos de logística como de custos”, afirma. E o Busger estacionou de vez em um ponto bem localizado da Chácara Klabin (região da Vila Mariana), mas desta vez cercado por um deck com mesas e cadeiras, com ombrelones para os dias quentes e aquecedores para os dias frios.

O empreendedor lembra que, quando pensou em seguir pelo ramo da “comida sobre rodas”, percebeu que era algo passageiro na maioria dos casos, por isso decidiu criar o novo conceito de negócio no food truck, mas que oferecesse uma experiência diferente para o consumidor.

“Ele quer ter informalidade, mas não quer comer de pé na rua, no sol… Então tentamos combinar o melhor da comida de rua com o conforto das lanchonetes tradicionais”, diz.

Com tíquete médio que varia de R$ 19 a R$ 40 reais em lanches como o “Supreme” ou “Shrek Bacon” e R$ 12 nos hot-dogs, a equipe do Busger não só viu o faturamento aumentar, mas também descobriu um baita espaço para estacionar os ônibus em locais nobres pagando a metade do que pagaria numa rua de comércio ou num shopping.

A adoção cada vez maior de outras formas de mobilidade por esse mesmo consumidor, como bicicleta, Uber e patinete, também favorecem o modelo de negócio do Busger, de acordo com Rodrigo. “Com isso, os estacionamentos vão ficando cada vez mais vazios, os espaços ociosos vão aumentando… E as nossas oportunidades de negócio também.”

EM EXPANSÃO

BACON SUPREME, UM DOS CARROS-CHEFE
BACON SUPREME, UM DOS CARROS-CHEFE

O sucesso inicial do negócio ajudou o ônibus a se pagar em oito meses, segundo Rodrigo e, com a transformação do modelo itinerante para o fixo, ele entendeu que era hora de potencializar a marca.

De novo, com a ajuda das redes sociais, o Busger conquistou o patrocínio de uma famosa cervejaria com muitos seguidores no Facebook, e ganhou mais um ônibus – um double-decker bus, o popular ônibus londrino de dois andares, daqueles que circulam pelas ruas da capital inglesa, que fica estacionado em São Bernardo do Campo.

Daí, surgiam cada vez mais interessados em abrir uma unidade do Busger, e Rodrigo percebeu uma expansão maior em São Paulo poderia ser canalizada através do franchising.

“Fechamos o primeiro estudo de circular de oferta em 2017 e, na sequência, abrimos unidades em Santo André, Santana e na Vila Madalena. A marca ficou mais conhecida, e número de interessados começou a aumentar.”

Hoje, a rede tem 11 unidades, e nem todas no modelo franquia fixa, mas com outros tipos de sociedade. “O sócio entra com o capital, nós com a operação, e o investimento fica menor”. Para adquirir uma unidade do Busger, o franqueado desembolsa entre R$ 500 mil e R$ 550 mil, com taxa de franquia de R$ 50 mil.

Nesse formato de expansão, há fila de espera, segundo Rodrigo, mas o Busger faz uma pausa momentânea para estruturar a próxima etapa da expansão: os fundos de private equity. “Não quer dizer que não vamos mais abrir franquias, mas essa possibilidade de aporte de capital é mais forte para dobrar nossa meta de abertura de lojas.”

Até o final do ano, a ideia é inaugurar 20 lojas, mas a meta é chegar a 40 até 2022. De preferência, lojas próprias, no modelo sócio-operador, como no Outback. “Mas é um formato que ainda estamos estudando”, afirma.

O PODER DO ENVOLVIMENTO ONLINE

Mas, além da ideia do “food truck fixo” com custos baixos de ocupação, qual é o diferencial do Busger que levou ao sucesso rápido? Na verdade são vários, segundo Rodrigo, como a estruturação e a profissionalização rápida do negócio, incluindo o marketing e o brand, logo no início.

Ele lembra que pelo menos 70% dos empreendedores que montaram trucks na mesma época, ou eram chefes de cozinha ou cozinheiros que não entendiam de negócios e quebraram.

“Muitos acham que food truck é só ir lá, comprar um trailer e vender comida. Mas não é bem assim: tem que saber lidar com o público certo, montar o cardápio certo, entender como precificar… Como em todo boom, 100 % dos negócios que sobem rápido caem rápido também”, diz.

No caso do Busger, o modelo vingou – tanto que hoje a rede tem uma cozinha própria em Osasco e, crescendo em média 100% a 200% ao ano desde a abertura, segundo Rodrigo, projeta fechar 2019 com faturamento entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões.

NO DETALHE, O AMBIENTE DO ÔNIBUS-HAMBURGUERIA

Ao ser perguntado sobre o que não faria novamente no modelo de negócio que criou para o Busger, Rodrigo lembra que, no começo, a rede não costumava ouvir os franqueados.

“Por imaturidade, já dissemos ‘não’ a certas sugestões que eles deram, e depois tivermos que voltar atrás por que entendemos que eram ótimas”, conta. “Não é porque você é dono do negócio que não pode ouvir o que o franqueado diz. A participação deles é muito relevante.”

Tanto que, hoje o Busger tem um conselho só para analisar novas ideias que surgem e que, se aprovadas, são colocadas em prática. “Da gestão colaborativa à inovação no cardápio, tudo passa pelos franqueados. Assim, dá para minimizar muitos erros no dia a dia.”

Mesmo com um modelo de negócio que deu certo, a maior sacada para o sucesso do Busger, segundo Rodrigo, foi o trabalho feito nas redes sociais desde o princípio.

“Criei a página, comecei a responder às dúvidas das pessoas e tudo isso foi criando um buzz. No dia em que começamos a funcionar, já tínhamos 40 mil seguidores”, conta.

Hoje, com 140 mil fãs nas redes sociais, Rodrigo diz que a estratégia é melhor do que investir em mídias tradicionais – vide o caso do ônibus quebrado na estrada e a venda recorde de hambúrgueres após o post no Facebook.

“Esse envolvimento online é muito importante, porque a resposta é imediata. Sair na revista pode dar muito mais visibilidade para a marca ao longo do tempo, mas o comércio precisa pagar a conta amanhã”, finaliza.

Fonte: Diário do Comércio

Sobre o autor

Wagner Marcelo

Atua profissionalmente como arquiteto de inovação, gerando e fomentando ecossistemas empreendedores e tecnológicos, tendo como missão o desenvolvimento de negócios disruptivos.

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