Já tem algum tempo que Fred Trajano (CEO) e Luiza Trajano (presidente do conselho) afirmam que possuem o objetivo de tornarem a Magalu a Amazon brasileira, será que a Magalu Cloud fará frente aos serviços da gigante americana Amazon que fornece serviços de Nuvem via AWS?
Os pensamentos atuais da diretoria já se distanciaram desse comparativo entre a empresa brasileira e a americana Amazon, Fred Trajano trocou a Amazon por Alibaba e Tencent como benchmark, sendo Jack Ma e Pony Ma, os bilionários que revolucionaram a cena digital chinesa com Alibaba e Tencent as novas inpirações, não mais Jeff Bezos.
Hoje a empresa com mais de 1.300 lojas, 39 mil funcionários, 22 centros de distribuição e atuando em 21 estados brasileiros é uma das grandes empresas do varejo nacional.
Esse título de uma das maiores empresas do varejo brasileiro não impede uma visão pragmática do mercado já que a empresa acumula quedas que chegam a 93% comparado às sua máximas entre 2020 e 2021.
Será que a sabedoria das multidões aplicada ao mercado refletem o real momento da empresa que já contou esse mês até com solicitação de suspensão de sua participação no Novo Mercado ou se trata apenas de uma visão distorcida e especulações, fazendo que em um futuro próximo observemos um ajustes nos valores atuais?
Acredito que somente o tempo será capaz de responder tal afirmação, mas se tratando da atual situação da empresa esse sonho está bem longe de se tornar realidade.
O fato é que a empresa está envolvida em uma suposta inconsistência contábil, veremos a empresa seguir para a atual situação das Lojas Americanas?
Além disso, a empresa em questão enfrenta 2 processos da CVM relacionados a compra da Kabum, onde os fundadores Leandro Ramos e Thiago Ramos da própria Kabum agem para que a venda seja desfeita.
A compra da Estante Virtual por R$31 milhões foi outra negociação questionável, já que o site tem como foco a compra e venda de livros físicos usados, se os livros físicos já estão com vendas em queda nas livrarias o que dirá dos livros físicos usados.
Agora prestes a lançarem a sua Nuvem, o assunto relacionado a se tornarem a Amazon Brasileira volta a estar em voga na mídia e em grupos de discussões, mas será possível de fato uma empresa como a Magalu se consolidar em um mercado altamente competitivo e dominado pelas Big Techs?
A empresa que até alguns dias atrás era apresentada como case de utilização de tecnologias de empresas como o Google e AWS, sairá de uma posição coadjuvante como usuário para protagonizar o desenvolvimento de novas tecnologias?
Em relação ao core business da empresa ela hoje já enfrenta desafios enormes em relação a venda de produtos falsificados em suas empresas, pois desde que se tornou um marketplace invariavelmente é possível se deparar com anúncios impulsionados pela própria empresa em diferentes redes sociais de produtos com qualidade questionável como esse da imagem ao lado.
A Netshoes utilizada aqui como exemplo a primeiro momento pode levar ao leitor a acreditar que devo estar enganado, pois a empresa não tem relação alguma com a Magalu, mas não se esqueça, a empresa Netshoes foi adquirida pela Magalu por R$244 milhões em 2019.
Voltando ao assunto do título desse artigo, vale lembrar que o mercado de serviços em Nuvem já possui grandes players consolidados, será que os valores alocados para o desenvolvimento desse novo setor trará retornos no longo prazo ou teremos como resultado situações parecidas com o Uber, onde vimos valores substanciais evaporando na frente dos olhos dos investidores, perdendo dinheiro continuamente no desenvolvimento de carros autônomos e do Uber Eats?
Acredito ser de extrema importância o lançamento de novos produtos, explorando assim novos horizontes, mas devemos fazer algumas considerações sobre o cenário:
1. Já temos grandes players internacionais consolidados como AWS, Google Cloud, Azure, IBM Cloud, Oracle Cloud, etc…
2. Empresas brasileiras de tecnologia estão tentando entrar nesse mercado há algum tempo, temos empresas como TOTVS Cloud, Locaweb, Mandic, UOL Cloud, dentre tantas outras que TB oferecem serviços em Nuvem.
3. As empresas citadas acima já eram conhecidas pelos ótimos serviços que prestavam ou seja já eram consolidadas em seus segmentos.
4. Vale lembrar que a Magalu abriu sua primeira operação fora do Estado de São Paulo (RJ) em meio a pandemia, ou seja, mesmo em seu Core Business ela não está consolidada nacionalmente.
5. Os desafios para se consolidar nacionalmente são enormes, mesmo para serviços digitais, pois nosso país é continental, o que dirá consolidar-se internacionalmente. Hoje empresas como Amazon, Microsoft, IBM e Google estão consolidadas, nada impedem de novos entrantes, mas o jogo é de Titãs.
6. A empresa ao invés de buscar consolidação nacional em seu segmento, abre uma nova operação, parece a busca desesperada por novas fontes de receita, o que pode no longo prazo comprometer a operação principal, já que saíram do foco.
7. Uma movimentação menos arriscada seria entrar nesse novo segmento por meio de fusões e aquisições.
8. Existe uma busca global de empresas Chinesas na consolidação da oferta de serviços em Nuvem, empresas como Alibaba Cloud, Huawei Cloud investem pesado nesse segmento, inclusive já fui abordado por ambas para o desenvolvimento de programas de apoio para Startups, mas sei das dificuldades de aceitação do mercado para deixarem suas operações digitais nas mãos de empresas Chinesas.
9. Aspectos técnicos para emplacar a oferta de serviços de Nuvem com qualidade é o principal entrave para a sua consolidação junto ao mercado. Aspectos como Infraestrutura, Acesso a mão de obra, são um dos reais desafios a serem enfrentados.
10. Em relação a infraestrutura, será possível torna-se competitivo já que um dos maiores desafios que empresas de tecnologias enfrentam são relacionados à tributos? Sendo esses tributos em grande parte relacionados à aquisição de equipamentos e soluções importadas.
11. Já em relação a mão de obra, o país já possui um grande deficit de profissionais de TI, elevando os salários desses profissionais a níveis estratosféricos, além dos encargos atrelados a contratação desses profissionais muitas vezes inviabilizar o fornecimento de serviços de qualidade a um custo/benefício interessante para o consumidor final, a não ser que tenhamos uma política de proteção desse segmento por meio de políticas públicas elevando o preço do serviço dos serviços fornecidos por multinacionais com uma taxação diferenciada, aliás só para deixar claro sabemos que isso nunca funciona.
12. O atual ambiente político pode favorecer de certa forma a expansão das atividades da Magalu, principalmente às digitais, pois não envolvem questões relacionadas à logística com o despacho de encomendas para um território continental.
Bem, como afirmei o cenário político para a empresa é favorável, como Luiza Trajano, é muito próxima do atual governo, inclusive participando de vários comitês, poderá transformar a Magalu em uma nova JBS, colocando a empresa dentre as campeãs nacionais, recebendo inclusive investimentos do Banco dos Brics, onde temos na presidência a ex-presidente Dilma Rousseff, além de ter a sua disposição o BNDES que sempre fornece condições especiais aos alinhados ideologicamente, garantindo assim o financiamento do desenvolvimento dos novos serviços digitais para quem sabe disponibilizar a todos os países de língua portuguesa, além de nossos vizinhos Sul-Americanos…
Trazer uma visão crítica não se trata de sofrer da síndrome de cachorro vira-lata ou ainda pagar pau para projetos gringos, mas sim de entender o nosso contexto geo-político para podermos focar em soluções que possam fazer o Brasil se tornar referência em inovação e não apenas surfar copiando modelos de uma empresa americana, explorando apenas mercados Greenfield.
Temos nosso agronegócio como referência global, sendo esse setor uma das vocações de nosso país, despertando de forma correlata empresas em alinhamento ao ESG+ ainda não exploradas eficientemente, onde nossas florestas podem representar em breve boa parte do PIB nacional, abrindo caminho para iniciativas atuantes no reflorestamento, crédito de carbono, biotecnologia, dentre tantas outras oportunidades.
Para se ter uma ideia, utilizamos até hoje algoritmos e processamento em nuvem para a realização de sequenciamento genético em máquinas de departamentos de pesquisa e empresas de biotecnologia Americanas que como consequência acessam dados sensíveis de pesquisas brasileiras. Talvez se utilizássemos algoritmos e processamento nacionais para tal função com foco no agronegócio pudéssemos de fato inovar em uma área em que somos referência no mundo, trazendo diferencial competitivo juntos aos países sem acesso a tal tecnologia nos garantindo uma vantagem competitiva relevante acessando por sua vez pesquisas desenvolvidas em outros países.
Por que não desenvolvermos o primeiro serviço de sequenciamento genético em conjunto com a Embrapa e tantas outras empresas do setor Agro, oferecendo isso como SaaS?
Além da vantagem competitiva, isso permitiria o melhoramento contínuo a um baixo custo de toda genética de nossos grãos e dos animais criados para produção de lã, leite e abate, mas ao invés disso, acabamos de forma indireta copiando serviços gringos e assim pagando pau sem se dar conta disso.
Vou fazer um comparativo de tal suposta inovação desenvolvida aos moldes tupiniquins para ilustrar tal cenário:
A Magalu Cloud está para AWS,
Assim como Onlyfans está para Twitter?
Obviamente que existe espaço para todos, mesmo desenvolvendo réplicas de serviços internacionais, mas ao focarmos sempre na comercialização de produtos/serviços sem grande diferencial competitivo, acabamos priorizando o imediatismo, pagamos uma preço caro com a perda do desenvolvimento de projetos inovadores no longo prazo que poderiam nos tornar protagonistas globais em setores estratégico.
Por falar em projetos inovadores, segue uma fórmula mágica que define bem o processo de inovação:
Inovação = Tecnologia + (Suporte)²
Em breve disponibilizarei um artigo para abordar de forma mais detalhada a fórmula e a sua aplicação prática.
Bem, se a China, o Dragão asiático, com todo o apoio governamental e influência global não conseguem bater as empresas da Águia Americana, seremos nós, o Cachorro Caramelo, da América do Sul que levaremos a melhor nesse segmento?
Esperamos que sim!
Aguardemos as cenas do próximo capítulo.
As decisões da empresa não são favoráveis, mas as alianças políticas possibilitam usar dinheiro público para alavancar a empresa de forma artificial. Eles realmente poderiam investir no que falta para o agro brasileiro. Mas, o perfil geral do empresário não gosta de criar o novo e assumir grandes riscos.
Ótima reflexão. Muito complexo, a empresa desejar atuar em foco tão distante da sua realidade atual. Se quisessem focar no agro, poderiam ter sucesso, já que afinal é o segmento que fomenta nossa economia