Cultura empreendedora Editorial

O que é Effectuation?

A indiana Saras D. Sarasvathy, professora e pesquisadora da Universidade da Virgínia, começou a desenvolver a metodologia, muito útil para startups, em 2001.

Effectuation é uma abordagem ou forma de pensar o empreendedorismo cujos métodos podem ser seguidos concomitantemente ao surgimento dos  problemas. Uma das principais premissas do Effectuation é que o empreendedorismo pode ser aprendido por qualquer pessoa, já que não é genético, nem exclusivo a gênios ou pessoas de sorte, tampouco científico.

Segundo Reynaldo Dannecker Cunha, professor de Gestão de Marketing, Planejamento de Marketing e Simulador de Negócios na Pós-Graduação da ESPM-SP, a Effectuation parte de recursos já existentes e da criatividade inerente a empreendedores, que buscam novas ideias e novas alternativas a serem oferecidas ao mercado. “As decisões vão sendo tomadas e, a partir da observação dos resultados obtidos e das informações, são adotadas possíveis mudanças de curso. Considerando-se que o futuro é imprevisível, buscam-se diferentes abordagens no mercado antes de se estabelecer um plano”, diz.

Renê José Rodrigues Fernandes, professor e gerente de projetos do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV-CENN), em uma definição bastante simplificada de Effectuation, diz que a abordagem combina o “aprender fazendo” com a prática da tentativa e erro e inverte a relação de causa-efeito da “lógica causal”. Nesta (também conhecida como Causation), para empreender, deve-se partir da definição e segmentação de mercados-alvos, fazer planos de marketing e estabelecer o posicionamento de um conjunto de produtos e serviços. “Pela visão effectual, o empreendedor parte da definição de um dos muitos mercados em que poderia trabalhar. Opta por iniciar o novo negócio pautado por menos informações (visando a previsibilidade), mas aproveita as contingências e parcerias que forjam, por meio de experimentações, a venda efetiva de seus produtos e serviços”, fala Fernandes.

Cunha conta que a base teórica da Effectuation (que surge como uma alternativa ao processo de Causation) apoia-se na ciência cognitiva, especialmente nos trabalhos que enfatizam um comportamento empreendedor (como identificam inputs, fazem inferências, percebem alternativas e respondem às limitações). “O futuro na Effectuation resulta de uma cocriação entre empresa e agentes selecionados (rede de investidores, parceiros e clientes) e os objetivos surgem do curso das ações, baseadas nos recursos da empresa, do conhecimento que ela tem e do capital social.”

De acordo com Fernandes, a Effectuation não é exatamente uma novidade entre os que decidem pelo empreendedorismo. O professor da FGV dá como exemplo o caso da pessoa que começa a fazer chocolate em casa, se aperfeiçoa, passa a vender para amigos e parentes e, mais tarde, abre uma pequena loja. “Nesta experiência ela pode descobrir um nicho interessante e lucrativo como a venda de seu chocolate para uma empresa que queira dá-los de brindes a clientes. Ou seja, ao abrir o negócio a pessoa estava muito mais preocupada com o quanto poderia perder, caso não desse certo, do que com a taxa interna de retorno ou o valor presente líquido, o que seria o normal dentro da “lógica causal” e do que vemos acontecer dentro da lógica do empreendedorismo inovador/tecnológico que parte da ideia de introduzir uma novidade no mercado a partir de um planejamento.”

A página Effectuation.org lista os quatro princípios que diz ser elementos fundamentais para o uso do “effectual cycle” à medida que um empreendimento se desenvolve: “Bird in Hand” (não esperar pela oportunidade perfeita e, sim, se basear no que está disponível), “Acceptable Loss” (avaliar oportunidades no que seria aceitável em um cenário negativo, não em um cenário positivo), “Lemonade” (abraçar surpresas que surgem a partir de situações incertas, permanecendo-se flexível) e “Crazy-Quilt” (formar parcerias com pessoas e organizações dispostas a assumir, de fato, um compromisso de criar conjuntamente o futuro).

Quem inventou: A indiana Saras D. Sarasvathy, professora e pesquisadora da Universidade da Virgínia, na Darden School of Business, e autora do livro Effectuation: Elements of Entrepreneurial Expertise, que em 2009 foi selecionado para o Terry Book Award. Entre outros prêmios e extensas informações curriculares (que podem ser lidas aqui), em 2007, Sarasvathy foi selecionada, juntamente com outros 17 acadêmicos da área de empreendedorismo, para compor a lista da Fortune Small Business. Em 2012, ela ganhou a Gold Medal do Axiom Business Book Awards pela coautoria no livro Effectual Entrepreneurship.

Quando foi inventado: Em 2001, Sarasvathy publica o artigo “Causation and effectuation: Towards a theoretical shift from economic inevitability to entrepreneurial contingency” e o tema se torna conhecido e estudado mas, de acordo com Cunha, da ESPM, a pesquisa tem início no final da década de 90. “A teoria surge como fruto da investigação conjunta entre acadêmicos e empresários de vários setores nos Estados Unidos”, diz o professor.

Para que serve: Como ideia e ferramentas para que negócios possam ser aberto por qualquer pessoa e sem se basearem em metodologias das escolas tradicionais de empreendedorismo como plano de negócios e pesquisa de mercado, entre outros. Fernandes, da FGV, diz que o modelo da Effectuation é bastante oportuno já que a maioria dos negócios abertos, tanto no Brasil como no mundo, obedecem mais a lógica effectual do que a causal. “Empreendimentos abertos com planejamento ainda são minoria. O que vemos é muita gente empreendendo por necessidade, fazendo os cálculos de quanto podem perder, de quanto podem arriscar, e não necessariamente buscando a introdução de inovações de forma planejada.”

Quem usa: Qualquer pessoa que queira abrir um negócio. “Embora seja aplicável por qualquer empreendedor, os princípios são especialmente adequados para startups, que partem de seus recursos disponíveis e buscam alternativas de mercado”, diz Cunha. Segundo Fernandes, entender a lógica da Effectuation é extremamente importante para formuladores de políticas públicas, entidade de apoio ao empreendedorismo e ONGs para poderem auxiliar o público interessado em empreendedorismo e aumentar sua capacidade de fazer negócios. “Isso, criando formas de desburocratização como, por exemplo, o MEI (Microempreendedor Individual), que contempla os pequenos empresários, e também formas que atendam às necessidades de quem é pequeno e cresce por acaso”, diz. Fernandes conta ainda que a lógica effectual ajudou, também, a academia a entender casos de sucesso e fracasso de empreendedores. “A visão sob esta lógica ajuda muito a entender o que deu e não deu certo.”

Efeitos colaterais: Mudança somente parcial do mindset. “Ou seja, a não adoção dos princípios da Effectuation integralmente, mesclando causa e efeito”, diz Cunha. Fernandes diz que como o Effectuation é um modelo teórico, não vê malefícios em seu uso ou aplicação. “Mas não podemos acreditar que todos os negócios vão nascer sob esta ótica. Temos cada vez mais empreendedores qualificados, que planejam, buscam mentoria, acessam investidores e estão mais preocupados com a lógica da geração de novos negócios de sucesso do que a manutenção de necessidade. Não esquecer deste público é importante.”

Quem é contra: “Não acredito que existam pessoas contra, apenas críticas ao modelo, como é comum dentro de qualquer modelo acadêmico”, diz Fernandes. Segundo o professor, o ensino de empreendedorismo ainda está, em grande parte, calcado na lógica causal. “Mas a lógica effectual existe e nos traz o desafio ajudar o empreendedor a minimizar perdas e diminuir sua taxa de insucesso”, fala. Cunha segue no mesmo raciocínio, dizendo que a teoria se contrapõe ao mainstream utilizado tanto na academia, como no ambiente de negócios. “Então, encontra resistência nos principais autores e praticantes de causation, o modo tradicional de pensar.” 

Para saber mais:
1) Assista do TEDx que Saras D. Sarasvathy apresentou em 2010, sobre Effectuation.
2) Leia, na Inc. Magazine, How Great Entrepreneurs Think. O texto propõe, à medida em que explica a Effectuation, que o leitor enxergue dentro das mentes de empreendedores cujos negócios deram muito certo.
3) Leia, na Forbes, o artigo How Do Entrepreneurs Think?, em que o autor conta que se identificou de cara com a Effectuation porque nunca se sentiu confortável ensinando empreendedorismo por meio das regras tradicionais.
4) Leia o artigo que Saras Sarasvathy escreveu na Harvard Business Review sobre Effectuation. Ela começa Everyone Should Learn the Entrepreneurial Method contando uma experiência que fez cozinhando lentilhas para chegar aos pontos iniciais (e então a toda a abordagem) da Effectuation: parta de quem você é, do que é de quem você conhece para ter ideias de risco factível.

Fonte: Draft

 

Sobre o autor

Wagner Marcelo

Atua profissionalmente como arquiteto de inovação, gerando e fomentando ecossistemas empreendedores e tecnológicos, tendo como missão o desenvolvimento de negócios disruptivos.

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