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Uber deixa oito países e enfurece motoristas

A abrupta saída do Uber de oito países no dia 25 de março - um mês depois de ele prometer continuar "investindo de maneira muito agressiva" na região - deixou as autoridades reguladoras, motoristas, usuários e funcionários com a sensação de terem sido profundamente desrespeitados, além de prejudicados.

A decisão da companhia tem o objetivo de reduzir prejuízos antes da abertura de capital.

Em um novo comercial para a televisão, o diretor-executivo do Uber, Dara Khosrowshahi, promete um futuro melhor para a gigantesca empresa de transporte, deixando para trás seu passado medíocre. “Um dos nossos valores fundamentais como companhia é fazer sempre a coisa certa”, declara no anúncio Khosrowshahi, que ingressou na empresa há nove meses.

A abrupta saída do Uber de oito países no dia 25 de março – um mês depois de ele prometer continuar “investindo de maneira muito agressiva” na região – deixou as autoridades reguladoras, motoristas, usuários e funcionários com a sensação de terem sido profundamente desrespeitados, além de prejudicados.

A decisão de Khosrowshahi de sair do mercado do Sudeste Asiático reflete a pressão que ele próprio está sofrendo tanto do conselho diretor do Uber quanto de grandes investidores, como o SoftBank, para que reduza os enormes prejuízos da companhia enquanto prepara uma oferta pública inicial de ações. O plano de saída que ele elaborou mostra os desafios que enfrenta para manter o prestígio da marca do Uber enquanto tenta disfarçar seu menosprezo pelos outros.

“Toda a coisa foi tratada de maneira muito ruim”, disse Justin Ang, que foi motorista do Uber em Cingapura por cerca de um ano. “Eles praticamente nos disseram: ‘Estamos em uma fusão! Adeus!”.

Sob a direção de Khosrowshahi, o Uber fez o impossível para agradar a reguladores e clientes em mercados como Londres e França.

Mas no Sudeste Asiático, a companhia calculou que as autoridades reguladoras de oito países teriam pouco poder para impedir que a companhia saísse.

O Uber apresentou a venda de suas operações para a Grab, sua principal concorrente na região, como fato consumado. O aplicativo Uber fecharia no prazo de duas semanas, e os consumidores foram aconselhados a fazer o download do aplicativo da Grab, enquanto os motoristas foram encorajados a depositar sua fidelidade em outra empresa.

Os 500 funcionários do Uber na região foram imediatamente demitidos sem saber se teriam a chance de receber uma oferta de emprego da Grab. Quanto às autoridades reguladoras, foram informadas de que de modo algum o acordo seria desfeito, mesmo que elas objetassem ao domínio esmagador da Grab no mercado de táxi da região.

A imagem da companhia foi extremamente prejudicada nos últimos anos pelas revelações de uma cultura de abusos da empresa, de fraudes sucessivas em todo o mundo, acusações de roubo envolvendo a tecnologia de uma concorrente e o aberto desafio das regulamentações que controlam as operações de táxi.

O Uber, sediado em San Francisco, enfrenta também as consequências de seu comportamento anterior em mercados externos como Londres, sua cidade mais lucrativa. Em setembro passado, as autoridades reguladoras se recusaram a renovar a licença do Uber para operar na cidade, afirmando que a companhia não tinha “competência e idoneidade” para dirigir um serviço de transporte de passageiros.

Segundo os investidores, a empresa fez a coisa certa ao vender suas operações no Sudeste Asiático. Ela perdeu terreno para a Grab, sediada em Cingapura, e Khosrowshahi teve de reduzir seus crescentes prejuízos que, no ano passado, totalizaram US$ 4,5 bilhões no mundo inteiro.

Com a saída de China, Rússia e Sudeste Asiático, embora mantendo participações em suas concorrentes anteriores, o Uber se beneficiará com o crescimento global do setor sem precisar investir mais dinheiro, afirmou Rohit Kulkarni, do SharesPost, um mercado de San Francisco onde são negociadas ações em empresas privadas. Mas poderá voltar a se concentrar na Índia, onde enfrenta a dura concorrência da Ola, a líder local, e fortalecer sua empresa em mercados como América do Norte, Europa e América Latina.

“A empresa precisa tomar medidas claras para conseguir lucrar”, disse Kulkarni.

Fonte: Terra

Sobre o autor

Wagner Marcelo

Atua profissionalmente como arquiteto de inovação, gerando e fomentando ecossistemas empreendedores e tecnológicos, tendo como missão o desenvolvimento de negócios disruptivos.

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