As questões do meio ambiente entraram, finalmente, no centro das atenções políticas, econômicas, jurídica e sociais durante o ano de 2020. Para atualizar a visão geral sobre o tema o portal Fruit of Brazil ouviu um expoente da restauração florestal com fins produtivos no Brasil, o engenheiro florestal Elder Rodrigues da Atlas Florestal.
Especialista em unir floresta com alimentos, é criador do projeto Conectando Florestas, uma iniciativa que lança o desafio a produtores rurais e donos de propriedades com baixa produtividade (ou improdutivas) a fomentarem a restauração de 2.000 hectares de florestas e áreas degradadas, entre os estados de São Paulo e Rio e Janeiro, até 2030.
Restaurador de Florestas desde 2008, Elder auxiliou na recuperação de 1.500 hectares de Mata Atlântica e Cerrado, com plantio de mais de 1 milhão de mudas. Com uma visão humanizada de serviços ambientais, construiu carreira coordenando grandes obras ecológicas fazendo a intermediação de equipes técnicas e operacionais – de forma criatividade e sempre com foco na solução de problemas causados ao meio ambiente.
“A preocupação está em reduzir ao máximo essa situação de degradação do capital natural e de desigualdades sociais. O que proponho é utilizarmos ferramentas de produção de serviços socioambientais, o desenvolvimento de projetos com produção orgânica e agroflorestal, visando a conservação da natureza, inclusão das classes menos favorecidas e colaborando para o desenvolvimento sustentável”, propõe Elder.
Observando o futuro: Em seus livros e palestras o pensador, sociólogo e futurologista Jeremy Rifkin afirma que, há décadas, a humanidade precisa fugir da extinção e mudar a forma de interagir com o meio ambiente e com o planeta, como um todo. Afinal, estamos todos dentro do mesmo lugar e não há fronteiras para ondas de caos no meio ambiente.
“só investindo na economia verde é que teremos futuro”, diz rifkin.
“O problema não é a austeridade, mas sim a falta de um plano de desenvolvimento, que está criando problemas”. Uma amarga realidade a ser debatida e aplicada urgentemente para a sobrevivência de todas as espécies no planeta. Investir em reflorestamento, aliado às técnicas e resultados agroflorestais multiplicam-se as possibilidades de maior qualidade de viver a todos em volta. Ambiente recuperado, alimentos naturais e saudáveis – e um bem ao planeta.
Desafio global na ‘Década da Restauração’
Se o ano de 2019 não foi fácil para o meio ambiente, 2020 a situação chegou a pontos críticos com as queimadas (criminosas) e pela ausência de agendas de políticas públicas no Brasil. A destruição recorde no Pantanal mato-grossense e na Amazônia brasileira – somados aos incêndios florestais nos Estados Unidos e na Austrália – colocou líderes do mundo em alerta. Os ‘vilões’ deixaram um rastro de terras devastadas, mas passíveis de recuperação.
O calor excessivo já causado pelo aquecimento global, o negligência política, a impotência social para mobilizações e a necessidade de ações coordenadas entre países do mundo inteiro fez com que a Organização das Nações Unidades (ONU) declarasse a Década da Restauração entre 2021 e 2030. Durante os próximos dez anos esforços não serão poupados por países que buscam atingir metas ambiciosas no âmbito da restauração florestal e precisaremos de profissionais capacitados para absorver estas demandas.
Veja, nos mapas abaixo, o impacto gerado por uma restauração florestal:
“quando restauramos florestas, causamos um impacto que perdurará por centenas ou até milhares de anos. precisamos pensar em longo prazo, entendendo que ao criar a associação entre restauração florestal com produção de alimentos e produção de madeira será fundamental para manter a humanidade em evolução”, afirma o engenheiro florestal.
Acompanhe a entrevista completa do engenheiro florestal ao canal Fruits of Brazil:
FB: Uma pergunta ampla. Como você observa, de modo geral, a questão do meio ambiente?
ER: Com uma visão ampla e realista, acredito que as questões ambientais ganharam relevância no cenário mundial sim, porém, ainda vemos ela como um setor a ser trabalhado. Uma observação que eu costumo trazer nesse ponto é de que estamos construindo a casa pelo telhado. Onde esse telhado é a economia – que hoje é priorizada – porém, esquecemos que o alicerce é o recurso natural e as paredes são as pessoas.
Sem recursos naturais não existiria sociedade e sem sociedade não existiria economia. O meio ambiente é a prioridade da nossa década. Simplesmente por uma questão de sobrevivência e não de lobby ou de propósito humano. Ou seja, precisamos mudar a visão de como os recursos naturais nos servem, para como servimos aos recursos naturais. Essa mudança de pensamento nos fará trabalhar a favor do ecossistema global e não contra ele.
FB: Começamos a “década da restauração florestal”? Quais são os indicativos de que tudo já começou a mudar?
Acho que o maior indicativo é a popularização do assunto. Trabalho na área há mais de 10 anos e posso dizer que até três anos atrás este era uma assunto restrito ao meio técnico “florestal”. Hoje, é tema dos noticiários cotidianos.
Outro indicativo da mudança é o número de organizações engajadas na causa, uma grande quantidade de ONGs, empresas e até sites de busca estão empenhados em promover a restauração florestal e o plantio de árvores.
FB: Em uma década de catástrofes ambientais, com queimadas e poluição, a falta de cuidado da humanidade está impactando em escala ecossistemas. Nunca antes estivemos ameaçando tanto a segurança alimentar e nosso planeta. Quais são as tendências produtividade no campo, nessa década?
Sem dúvidas, o que mais ameaça a sobrevivência humana é a segurança alimentar. O aumento da temperatura média global e o regime hídrico influenciam diretamente na produção de comida.
Nesse sentido, precisamos mais uma vez olhar para a natureza e aprender com ela, e assim, trabalhar em conjunto com ecologia dos ecossistemas produtivos. Uma solução real está na produção de alimentos em meio as florestas, e não no lugar delas.
Os sistemas agroflorestais são excelente alternativa para viabilizar uma produção agrícola mais resiliente que, ao mesmo tempo, fornece comodities alimentares e também regenera e recupera solos e áreas, antes degradadas.
Mais sobre a Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas: trata-se de um chamado para a proteção e revitalização dos ecossistemas em todo o mundo, para o benefício das pessoas e da natureza. Tem como objetivo deter a degradação dos ecossistemas e restaurá-los para atingir os objetivos globais. Somente com ecossistemas saudáveis podemos melhorar a vida das pessoas, neutralizar as mudanças climáticas e impedir o colapso da biodiversidade.
A Década da ONU vai de 2021 a 2030, que também é o prazo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o cronograma que os cientistas identificaram como a última chance de prevenir mudanças climáticas catastróficas.
A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Década da ONU seguindo uma proposta de ação por mais de 70 países de todas as latitudes. Veja a resolução aqui.
Cadastramento: Até 2030, donos de áreas com pouca produtividade já podem implementar Projetos Agroflorestais
Produtores e proprietários rurais que desejam recuperar e produzir florestas em suas propriedades podem se cadastrar pelo link: https://pt.surveymonkey.com/r/Conectando_Florestas. Serão selecionadas áreas que hoje se encontram ociosas, improdutivas ou degradadas, sempre pensando em consórcios de espécies arbóreas nativas com espécies agrícolas de ciclo curto.
Idealização da Atlas Florestal, o projeto de reflorestamento conta com o apoio da Agronosa, AZTA Assessoria Ambiental, CAAETÊ Consultoria Ambiental e Engenharia Sustentável e do canal de especializado em informações sobre frutas brasileiras Fruits of Brazil. Entre os principais parceiros, estão: LR Florestal, Ammana Brazilian Fruit Export, Elysios Agricultura Inteligente e Mundo Caboclo.
Saiba mais: https://conectandoflorestas.org.
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