A empresa Apple, que teve a sua origem a partir de uma simples garagem na casa da família de Steve Jobs, atinge o marco de US$ 2 trilhões em valor de mercado e já é maior que PIB de 95% dos países, sendo a primeira companhia americana a atingir esse respectivo valor, que corresponde a quase 11 trilhões em moeda brasileira. Isso em apenas dois anos após ter atingido US$ 1 trilhão.
No ano de 2018, o grupo foi o primeiro a ultrapassar a faixa de US$ trilhão de mercado em Wall Street. Desde então, foi seguido pela Amazon, Microsoft e Alphabet, matriz do Google.
O preço das ações da Apple bateu recorde no pregão dos EUA, de 19 de agosto, atingindo o valor de US$ 467,77, ultrapassando a marca de US$ 2 trilhões na bolsa de Nova York.
A estatal Saudi Aramco, que é a gigante do petróleo, foi a única outra empresa a atingir o marco de US$ 2 trilhões depois de listar suas ações em dezembro de 2019, mas sofreu um impacto, caindo para US$ 1,8 trilhão. Em contrapartida, a Apple veio a superar esse valor e no final de julho, se tornou a empresa comercializada mais poderosa do mundo.
Na lista de empresas americanas abertas mais valiosas, a Amazon e a Microsoft aparecem depois da Apple, com cerca de US$ 1,6 trilhão cada uma, em valor de mercado.
Apenas Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Índia, Reino Unido, França e Itália, dos mais de 190 países, registraram um PIB com valor nominal a partir de US$ 2 trilhões no ano passado. Esse comparativo é para tentar dimensionar o quão alto é esse valor, uma vez que atingiu o PIB dos países mais ricos do mundo. O recorde de valor de mercado da empresa superou até o PIB do Brasil em 2019, que foi o equivalente a US$ 1,84 trilhão.
Apesar do cenário de pandemia, onde várias lojas de varejo foram fechadas e até mesmo das pressões políticas que a companhia sofreu sobre sua ligação com a China, suas ações dobraram de valor, mesmo no período de maior pânico, em meados de março, devido ao confinamento por causa do surto do coronavírus, cujo impacto negativo afetou os mercados, porém, essa própria fase acabou beneficiando a empresa, que pode ver seus resultados aumentarem significativamente.
A Apple, fabricante do iPhone, faturou mais de US$ 60 bilhões no segundo trimestre, obtendo mais de US$ 11 bilhões de lucro líquido. Desde o início do ano, suas ações subiram quase 60%.
Ainda que em recessão, os EUA pode constatar o aumento das ações das companhias que se mantiveram firmes apesar das regras de isolamento.
Uma rápida volta ao tempo para rever alguns fatos sobre a trajetória da Apple, considerada a gigante da informática.
A empresa Apple foi fundada em 1976 pelo grande visionário, Steve Jobs. A companhia marca seu início nos fundos da garagem da família de Jobs, na Califórnia. Sua trajetória teve uma evolução bem significativa, passando da venda de telefones e computadores Mac e se transformando em uma companhia pioneira de revolução móvel.
A Apple revolucionou a indústria de computadores pessoais, os filmes de animação, o mundo da música e dos telefones celulares, além de se tornar empresa que conseguiu agradar consumidores que se tornaram fãs fiéis da marca.
Em 1985, Steve Jobs foi expulso de sua própria companhia por razões de disputas de poder, onde só veio a retornar para a empresa, quando a mesma, no ano de 1996, veio a comprar a Next, empresa para desenvolvimento de softwares que o próprio Steve Jobs fundou após sua saída da Apple.
Em 1997, Steve Jobs retornou ao cargo de CEO da Apple para resgatar a companhia de uma possível falência, iniciando um processo de revitalização da empresa, onde uma nova equipe administrativa lançou produtos revolucionários, como iPode, lançado em 2001, levando toda a indústria fonográfica a ter de se reinventar dentro do mercado.
O fenômeno iPhone surge em 2007, fazendo com que a Apple conseguisse revolucionar a indústria de celulares surpreendendo grandes marcas como Microsoft, Intel, Samsung e Nokia, vindo a mudar a maneira como os consumidores se conectam uns com os outros e como as empresas conduzem o comércio diário, ganhando milhares de consumidores fãs da marca, mundo afora.
Em 2009, a empresa lança o “Netbook”, computador de mão. No mesmo ano lança o iPad e, em junho de 2011, em seu último ano de vida, Steve Jobs anuncia o “iCloud”, que resolveria o problema de armazenamento de arquivos, onde fotos, músicas e aplicativos serão guardados em “nuvens”, que são potentes servidores.
Steve Jobs foi diagnosticado com um câncer raro no pâncreas, em 2003. Mesmo com a descoberta no início, Jobs se recusou a fazer a cirurgia, optando por tratamentos alternativos. Em 2009, sua saúde já estava muito fragilizada, o levando a perder muitos quilos. Nesse mesmo ano, nomeou Tim Cook para diretor de operações da Apple. Em janeiro de 2011, Jobs anunciou que estava saindo de licença médica, em agosto renunciou ao cargo de CEO, vindo a falecer em outubro do mesmo ano.
Tim Cook foi nomeado CEO da Apple, em agosto de 2011, logo após Jobs ter renunciado ao cargo na companhia.
Houve um grande temor por parte dos analistas em virtude da escolha de Steve Jobs por Tim Cook, para ser seu sucessor, uma vez que o cofundador da Apple era um homem muito visionário, além de destemido, já Cook, até então, era visto como alguém sem o menor carisma e certamente destinado a fracassar à frente da companhia.
A trajetória de Cook desde seu ingresso na companhia, em 1998, foi marcada por várias fases, onde ele veio a passar por alguns cargos sêniores, incluindo os cargos de diretor de operações e vice presidente executivo de vendas e operações mundiais, até chegar a ser o CEO da Apple.
Contrariando a tudo e a todos, quase nove anos após a morte de Steve Jobs, sob o comando de Tim Cook, a Apple se torna a primeira empresa americana a atingir o marco de US$ 2 trilhões no mercado, mesmo em pleno período de maior pandemia registrada no século.
A empresa demorou 38 anos para atingir US$ 1 trilhão em valor de mercado. Isso ocorreu em agosto de 2018 e em uma entrevista à rede de TV CNN, Cook disse: “Eu precisava fazer algo para mostrar que é possível ser gay e fazer coisas grandiosas”.
Sempre muito discreto sobre sua vida pessoal, Cook havia comentado acerca de sua homossexualidade apenas em 2014, quando resolveu assumi-la publicamente.
Em apenas dois anos após esse marco, a Apple surpreende a todos e dobra sua capitalização. Vale lembrar que isso tudo sem a empresa ter lançado nenhum produto “revolucionário”, como era muito comum acontecer na época de Steve Jobs.
Segundo o biógrafo de Jobs, o escritor Walter Isaacson, que foi um dos poucos que conseguiu enxergar sentido na indicação de Tim Cook , feita pelo próprio Jobs para comandar a Apple: “Cook nunca foi um homem de produtos, mas a Apple precisava de um gestor operacional depois de perder alguém insubstituível, como o Jobs. Em certa medida, seria um triunfo do método (Cook) sobre a mágica de (Jobs).”
Totalmente contrário a Jobs, Cook focou em manter os custos sob controle, apostou alto na China e em construir um ecossistema de serviços e produtos ao redor das “joias” da casa, especialmente o iPhone que representou 44,2% da receita no terceiro trimestre de 2020.
A gestão de Cook não deixou de ter novos produtos, porém, nenhum deles empolgou o público consumidor fanático da marca, que sempre espera ver aquele toque mágico que só Jobs possuía.
Entre os produtos lançados sob comando de Cook, destacam se: Apple Watch, lançado em 2015, os AirPods, lançado em 2016 e o HomePod, lançado em 2018.
Os serviços por assinatura de músicas, filmes e armazenamento em nuvem, são as grandes apostas de Cook, numa transição que deve transformar a Apple em uma companhia de serviços em vez de hardware.
Sob administração de Tim Cook, a receita e os lucros da Apple mais que dobraram e seu valor de mercado deu um salto incrível de US$ 348 bilhões para US$ 2 trilhões e mais, a companhia ainda conta com US$ 81 bilhões em caixa, já excluindo todos os débitos e o retorno aos acionistas chegou a US$ 475,5 bilhões.
Com esse grande feito, não é só a Apple que se beneficia. Aos 59 anos de idade, Tim Cook, passa a ser o mais novo integrante do “clube de bilionários” do Vale do Silício.
Em um discurso de Cook realizado em 2017 na Universidade de Auburn, no Alabama, onde se formou, ele disse que sabia que nunca deveria tentar copiar o estilo e pensamento de Jobs e complementa:
“Eu falharia miseravelmente se fizesse isso que é o que acontece com muita gente que tem que dar continuidade ao legado de uma pessoa que é um ícone. O importante é traçar o próprio caminho e ser a melhor versão de si.”
Fontes: G1, Neofeed, Jovem Pan, Isto é Dinheiro, CNN, IG, Mac Magazine, Jornal Econômico, Olhar Digital, Canaltech, ebiografia
Gosto do Tim Cook quando ele peita acionistas que focam em retornos de curto prazo em prol do que acredita e traz os resultados como prova de seus argumentos.