Comércio Editorial

Com dívida de R$ 674 milhões, Saraiva pede recuperação judicial

Maior rede de livrarias do País, que enfrenta dificuldades financeiras, segue o exemplo da concorrente Cultura; companhia já fechou quase 20 lojas

A Livraria Saraiva, rede de varejo líder em venda de livros no País, pediu recuperação judicial nesta sexta-feira, 23. Com dívida de R$ 674 milhões, a companhia é a segunda empresa do setor em pouco mais de um mês a pedir proteção da Justiça para reestruturar débitos e tentar seguir em operação. A Cultura está em recuperação judicial desde o mês passado.

As dificuldades da Saraiva ficaram evidentes no início deste ano, quando a companhia atrasou pagamentos às editoras de livros – suas principais fornecedoras. A companhia voltou a ter dificuldades nos últimos meses, e foi iniciado um novo período de negociações. Após não conseguir fechar acordo, a companhia decidiu pela recuperação judicial.

No pedido feito à Justiça, a Saraiva lembrou que vem tentando reestruturar o próprio negócio – processo que está sendo tocado em conjunto com a consultoria Galeazzi & Associados. Recentemente, a companhia encerrou as atividades de 19 pontos de venda, sendo 11 lojas tradicionais e oito unidades iTown, que vendiam produtos de tecnologia da marca Apple.

No final de outubro, segundo a companhia, cerca de 700 funcionários foram desligados em todas as unidades de negócios da empresa.

Outra medida tomada pela Saraiva foi a saída de categorias em que a rentabilidade é mais baixa – como a venda de produtos de tecnologia, na qual precisa bater de frente com pesos pesados como a Via Varejo (dona de marcas como Casas Bahia e Ponto Frio) e FastShop. A entrada no segmento foi decidida há alguns anos, como uma tentativa de “proteção” à perspectiva de queda nas vendas de livros.

“Neste movimento (a saída da área de tecnologia), a Saraiva diminuirá substancialmente a geração de créditos tributários, uma das principais razões de consumo de caixa nos últimos anos”, diz a empresa, no documento da recuperação judicial. Para continuar a ofertar eletrônicos e itens de tecnologia nas lojas, a companhia deverá buscar uma parceria com uma rede especializada no setor, apurou o Estado.

Apesar de a venda de livros apresentar uma pequena alta em 2018 – de cerca de 5% em valores, segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) –, a Saraiva lembrou que o preço do produto tem subido bem menos do que a inflação. Segundo a companhia, enquanto o IPCA – índice oficial de inflação – subiu 53,8% de 2000 a 2017, o valor unitário do livro caiu 8%, na mesma comparação.

Outro segmento que já foi a segunda maior fonte de receitas para a Saraiva – música e filmes – foi bastante afetado por avanços tecnológicos, segundo a companhia, que cita no documento de pedido de recuperação a emergência de serviços como Netflix e Spotify nessa área.

Hoje, a companhia se dedica somente à atividade de varejo. O pedido de recuperação lembra que a companhia vendeu seus ativos editoriais e de educação há três anos, por R$ 725 milhões. Após esse negócio e um período de enxugamento do varejo, o grupo hoje contabiliza cerca de 3 mil colaboradores, 85 lojas próprias e uma área de venda de quase 50 mil metros quadrados no País.

A ação da Saraiva caiu 13,88% na B3, para R$ 1,80, na menor cotação de fechamento da sua história. No acumulado no ano, o papel da companhia já registrava perdas de cerca de 55%

Segundo dados da Economatica, a Saraiva estava avaliada até esta quinta-feira em R$ 58 milhões em valor de mercado, ante R$ 120 milhões no final do ano passado. Em janeiro de 2011, a empresa chegou a valer R$ 1,210 bilhão na bolsa.

Resultados negativos

No segundo trimestre deste ano, a Saraiva teve prejuízo de R$ 37,6 milhões. No mesmo período de 2017, o prejuízo foi de R$ 16,6 milhões.

Entre abril e junho, a receita líquida da companhia somou R$ 364,5 milhões, uma queda de 1,6% na comparação com o segundo trimestre de 2017. A receita com lojas foi de R$ 227,9 milhões, queda da 4,1% no período, e com o e-commerce chegou a R$ 136,5 milhões, crescimento de 2,9%.

A companhia acumula de janeiro ao final de setembro prejuízo líquido de R$ 103 milhões, mais que o dobro em relação ao resultado negativo de R$ 50 milhões de um ano antes.

Segundo o último ranking Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo), a Saraiva é 52ª maior varejista do país, tendo registrado em 2016 um faturamento de R$ 1,89 bilhão. Fnac e Livraria Cultura apareciam, respectivamente, na 97ª e 120ª colocações.

Histórico

A Saraiva foi fundada em 1914 em São Paulo pelo imigrante português Joaquim Ignácio da Fonseca Saraiva. Funcionando próxima à Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em 1917, passou a editar livros jurídicos.

A expansão da rede começou na década de 1970, com a abertura da segunda loja, na Praça da Sé. Na década seguinte, lojas foram abertas em shoppings e em outros estados do país. Em 2008, adquiriu a rival Siciliano.

Segundo a companhia, os negócios começaram a perder ritmo em 2014, com a estagnação da economia do país. A Saraiva diz ainda que o faturamento foi impactado no passado recente pela greve dos caminhoneiros e pela Copa do Mundo, pelo desabastecimento de fornecedores de telefonia e tecnologia, e por problemas na implementação do novo sistema interno de gestão.

Assista a reportagem!

Fonte Estadão e G1

Sobre o autor

Wagner Marcelo

Atua profissionalmente como arquiteto de inovação, gerando e fomentando ecossistemas empreendedores e tecnológicos, tendo como missão o desenvolvimento de negócios disruptivos.

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