Em maio deste ano, a multinacional de origem suíça Syngenta anunciou que havia concluído a aquisição da empresa mineira Strider. A startup é especializada em monitoramento em tempo real de pragas e doenças agrícolas.
Posteriormente, a empresa desenvolveu outros produtos, como mapeamento de maquinário, de qualidade de solo e irrigação – e se tornou uma plataforma integradora de soluções tecnológicas em agronegócio.
Fundada em 2013 por uma designer gráfica, um engenheiro de software e um profissional de TI, o investimento inicial do negócio foi de R$ 500 mil. Posteriormente, recebeu aporte de R$ 2 milhões para crescer. Houve também um segundo aporte de valor não revelado.
De acordo com informações públicas, a Strider teve faturamento de cerca de R$ 10 milhões em 2017. O valor da venda da não foi revelado.
Na época, em comunicado, a Syngenta afirmou que a transação aumentaria a capacidade da empresa em agregar valor aos clientes ao fornecer soluções digitais inovadoras.
“Hoje, os produtores não buscam mais comprar produtos químicos ou softwares isoladamente, eles estão focados em uma agricultura eficaz”, disse Luiz Tangari, CEO e fundador da Strider.
O empreendedor também afirmou em comunicado que a missão da Strider é facilitar a alta produtividade a um custo eficiente e permitir que as operações sejam econômica e ambientalmente viáveis.
Aportes de grandes corporações em startups brasileiras estão em ascensão. E não é só isso. O Brasil está no radar de diversos investimentos globais, dos mais variados perfis, como venture capital, private equity, corporate venture e aceleradoras, entre outros.
Entre os anos de 2013 e 2017, o montante de investimentos na América Latina superou US$ 3,186 bilhões. Desse total, o Brasil recebeu 52% – líder disparado em aplicações de capital. Considerando somente 2017, o valor bateu recorde anual e alcançou US$ 1,14 bilhão, com o Brasil sendo destino de 45,4%.
Os dados foram revelados por uma pesquisa da Associação Latino-Americana de Private Equity e Venture Capital (Lavca).
As empresas mais beneficiadas foram do segmento de tecnologia para serviços financeiros (fintech), marketplace, SaaS e ecommerce. De acordo com Flavio Zaclis, sócio-fundador da Barn, gestora de capital brasileira e a primeira investidora da Strider, também tem crescido o interesse por startups com tecnologias aplicadas em educação, saúde e agricultura, como a da mineira adquirida pela Syngenta.
“No caso de investimento de capital semente (um dos primeiros níveis), a startup utiliza o recurso para fazer contratações, aprimorar o produto e investir em marketing e vendas”, afirma Zaclis. “É o que possibilita o aumento das receitas”.
Oportunidades que nascem das cinzas
No entanto, num passado recente, as startups passaram por dificuldades. Em 2015, em meio à crise, o investimento anjo (geralmente o que antecede o de capital semente), recuou 14% em relação ao ano anterior. A retração foi de R$ 1,2 milhão, de acordo com uma pesquisa da Anjos do Brasil.
Isso acontece porque a situação econômica do país influência nas decisões de investimentos. Em épocas de baixo consumo, juros altos e inflação galopante, muitos investidores preferem aplicar em moedas estrangeiras (longe da instabilidade interna) ou em renda fixa.
E agora, findada a recessão, está tudo bem? Calma lá.
“O que existe hoje é uma grande incerteza política e econômica que acaba atrapalhando o investidor e o empreendedor”, afirma Zaclis. “Estamos num ponto de muita indefinição e isso afeta os negócios.”
Embora em momentos de crise interna tanto o investidor quanto o empreendedor tenham maior receio de tomar risco, há um lado positivo, na análise de Zaclis.
“A crise pode funcionar como uma seleção natural”, diz ele. “Sobrevive o empreendedor com produto bom e o investidor com visão de longo prazo.”
Um bom exemplo de negócio que teve sucesso nos últimos anos é a Trocafone. A empresa é uma das maiores compradoras e revendedoras de celulares usados no Brasil.
O modelo permite a transferência de valores entre camadas sociais. Para quem vende, há o retorno financeiro para aquisição de novos aparelhos. Para quem compra, a vantagem é ter um equipamento com bom custo-benefício.
A Barn investiu na Trocafone no segundo semestre de 2016. No momento, não há perspectivas de venda. Mas há possíveis compradores no radar, como empresas de ecommerce, seguradoras de celular, fabricantes de equipamentos e grandes varejistas. E assim o ciclo continua.
Fonte: Diário do Comércio
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