Por Gabrielle Jordano*
Você empresário, já parou para pensar como é a vida das pessoas com deficiência no quesito consumidor? Talvez você pense, qual a diferença? Alguma vez você já saiu para jantar num restaurante bem legal com seu companheiro (a), e já logo de entrada, percebe que você precisa de ajuda para entrar. Mas até aí, entrar no estabelecimento, foi apenas um inconveniente, certo? Nem tanto, mas vamos em frente.
O garçom chega para atender vocês, mas ao invés de se dirigir diretamente a você, ele se dirige ao seu acompanhante e te ignora no atendimento? Ou começa a falar alto e devagar com você, como se você tivesse algum tipo de dificuldade de compreensão, ou de ouvir. Porém, você ouve, fala, gesticula e se comunica normalmente. Agora pense que a diferença entre você e esta pessoa que estou descrevendo é simplesmente uma cadeira de rodas.
Agora vamos para outro caso. Você está abrindo uma empresa e vai conhecer um prédio comercial, numa grande avenida da sua cidade, na qual, você pretende sediar a sua empresa. Mas antes de ir, você pergunta se o local é acessível ao responsável e te confirmam que sim.
Chegando ao prédio, após fazer o cadastro e passar pela catraca, você descobre que o elevador não é tão acessível assim e você terá que fazer algumas acrobacias para poder chegar ao seu destino. Chegando no andar, percebe que além de não conseguir se locomover entre as baias, também não há banheiros acessíveis.
Aí você se pergunta, afinal, o que estas pessoas entendem por acessibilidade?
Isto porque não comentei sobre cardápios em braile, que quase nenhum restaurante em São Paulo possui, mesmo tendo uma lei Estadual que obrigue todos os restaurantes / bares a ter ao menos um cardápio acessível. Ou que há mais de dez anos é obrigatório a entrada e permanência de pessoas cegas acompanhadas de cães guias, segundo lei federal.
E mercados, grandes ou pequenos que não estão preparados para atender cadeirantes, ou cegos, com bengalas ou muletas. Alguns são tão estreitos que mal cabem duas pessoas magras, agora uma pessoa com muletas ou um cadeirante é praticamente impossível transitar por estes estabelecimentos. Sem contar, que ao solicitarem ajuda dos funcionários que não foram preparados para atenderem ao consumidor com deficiência, então, é quase se tivesse uma grande placa nestes estabelecimentos “neste local não é permitido a presença de pessoa com deficiência”, chocante, não? Mas é exatamente com estrutura e ações que estão dizendo estes estabelecimentos.
Não seria o direito de ir e vir livremente e para todos? E por que algo tão simples é tão difícil de ser colocado em prática?
Agora, o que isso impacta no meu trabalho, na minha empresa, no meu estabelecimento? Há algumas semanas a Revista Veja São Paulo, trouxe estampado na capa uma manchete sobre o pequeno número de Pessoas com Deficiência em cargos de liderança.
Mas se atentem ao título. Deixou de ser a inserção de pessoas no mercado de trabalho ou muito menos a qualificação da mão de obra. O grande mercado de Pessoas com Deficiência (PcD’s), hoje já é um mercado econômico gigantesco e os consumidores com deficiência já galgaram seus espaços e não estão dispostos a retornar!
Falando de mercado e geração de renda para o comércio, você já reparou quantas pessoas com deficiência entraram no seu estabelecimento nos últimos 6 meses e compraram na sua loja ou utilizaram seus serviços? Você já reparou ou percebeu que por sua condição a maioria das pessoas com deficiência andam, se locomovem acompanhadas? Agora vamos para números, se segundo o IBGE, mais de 30 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência.
Mas cada vez que um estabelecimento comercial não se prepara para atender a este milhões de consumidores mais seus acompanhantes, vou te contar uma coisa, você não está deixando de fazer caridade. Você está deixando de lucrar.
Pois quando fizemos as entrevistas para conhecer a fundo o público diversificado que é o público de pessoas com deficiências, todos eles foram unânimes em dizer que falta qualidade no atendimento, era o principal entrave para irem a um estabelecimento ou consumir de forma tranquila. São o que eles chamam de “atitudinal”.
Já ouviu esta palavra, atitudinal? Então, preste atenção se você quer incrementar suas vendas nestes tempos tão bicudos.
Investir orçamento para adequar suas instalações da sua empresa segundo a legislação para atender ao público de pessoas com deficiência e não preparar e qualificar sua equipe para atender a este consumidor exigente é o mesmo que ter uma Aston Martin parada, ocupando espaço na garagem e reclamar que ela não liga porque você deixou ela ficar sem gasolina.
Afinal, hoje todos pagam para ser bem atendidos ou escolhem outros locais que os atendam melhor. Ninguém está mais disposto a ser mal atendido muito menos ignorado na prestação dos serviços pelo qual pagou, simplesmente viram as costas e vão embora.
E você está deixando de atender a estes milhões de consumidores na sua empresa?
* Gabrielle Jordano – CEO Integratur – Plataforma de Turismo para Pessoas com Deficiência e 60+. https://integratur.com.br
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