Editorial TIC's

As startups brasileiras que crescem em tempos de incerteza

Há poucos dias, a Loggi se tornou o mais novo unicórnio brasileiro. A empresa paulistana que conecta empresas, consumidores e motoboys foi avaliada em US$ 1 bilhão após uma rodada de investimentos. Os recursos, que somam US$ 150 milhões, foram aplicados por SoftBank, Microsoft, GGV, Fith Wall e Velt Partners.

Agora, a Loggi integra o Olimpo das startups brasileiras ao lado de Pagseguro, Stone, Nubank, Ascenty, Arco, Gympass, 99 e iFood – todas unicórnios, como são chamadas aquelas que valem mais de US$ 1 bilhão.

Fundada em 2013, a Loggi está presente em 36 grandes cidades, que concentram 35% da população do país. Na sua base, há 20 mil motoboys cadastrados, que realizam entregas para Dafiti, Mercado Livre e McDonald’s.

A empresa também possui parceria com o iFood, que utiliza a rede da Loggi para fazer suas entregas de alimentos.

Empreendedores à frente de startups costumam dizer que ter seu negócio avaliado em US$ 1 bilhão não é um objetivo em si, mas apenas sinalizam que a empresa está no caminho certo. Um caminho que mais de milhares de startups desejam percorrer.

De acordo com o estudo Brazil Digital Report, realizado pela consultoria McKinsey em parceria com a Brazil at Silicon Valley, que analisa a economia digital brasileira, o país possui mais de 10 mil startups. Elas são responsáveis por mais de 30 mil empregos. Somente em 2018, esses negócios emergentes receberam mais de US$ 1 bilhão em investimentos.

A pesquisa também revela que a base da pirâmide das startups é bem menos glamorosa dos que os negócios que estampam nas capas de revistas. Quase 40% delas ainda não geram receitas e 63% são formadas por equipes com menos do que seis pessoas, incluindo os diretores.

Há também uma alta rotatividade de criação e morte de negócios, sendo que 70% delas tem menos de 3 anos de existência.

Entre aquelas que passaram da marca dos três anos, as maiores dificuldades iniciais foram engajamento do consumidor (23%); marketing e aquisição de clientes (13%); precificação e geração de receita (11%); investimentos (9%); tecnologia (9%); operações (9%) e retenção de clientes (8%).

A gama de atuação das startups é vasta. Elas atuam em serviços profissionais (16,2%); telecomunicações (11%); finanças (8,8%); saúde (8,2%); varejo (7,5%); educação (7,1%); mobilidade (5,7%); mídia (4,4%), entre outros.

Quando são analisadas as tecnologias em que se baseiam os modelos de negócios, o funil fica um pouco mais apertado, com as startups atuando com ferramentas que estão em alta no mundo todo, mas que já apresentam saturação frente a tecnologias mais novas.

Analytics/Big Data estão presentes em 37% das startups nacionais; Cloud em 23%; Inteligência Artificial em 14%; IoT em 8%; realidade virtual em 4% e Blockchain em 2%.

DE ONDE VEM OS RECURSOS

No início do ano passado, a PagSeguro, empresa de pagamentos, arrecadou cerca de US$ 2,27 bilhões em sua oferta pública inicial de ações na Bolsa de Nova York. A empresa vendeu ações a US$ 21,50 cada – acima da faixa prevista antes da oferta.

Os recursos foram usados, por exemplo, na compra do Banco Brasileiro de Negócios (BBN). Hoje, os papéis da empresa dona das máquinas Moderninhas estão sendo negociados a US$ 36,37 – uma valorização 22% após quase um ano e meio do IPO.

Para as startups nascentes, os recursos são mais escassos. Os investimentos iniciais costumam vir de família e amigos, sendo essa a fonte para 76% dos negócios brasileiros de tecnologia. Investidores-anjo atuam em 9% dos casos; aceleradoras e fundos públicos em 4%, cada um, e venture capital e financiamentos bancários somam 2%

O lado bom dessa história é que investimento-anjo – aquele que costuma acontecer na sequência do empurrãozinho da família – passou pela crise econômica sem despencar no chão.

Em 2017, os investidores-anjo aportaram um total de R$ 984 milhões, valor que representa um crescimento de 16% em relação ao ano anterior, de acordo com a Anjos do Brasil, entidade que congrega investidores do tipo. Entre 2010 e 2017, o segmento teve alta anual média de 14%.

Ao mesmo tempo, os fundos de Venture Capital – capital de risco, dedicado para empresas de médio porte que precisam se desenvolver e acelerar o crescimento -tiveram crescimento ainda maior. Entre o 1º semestre de 2016 e mesmo período de 2018, o país somou US$ 546 milhões em investimentos da modalidade, uma taxa de crescimento média anual de 123%.

Vale lembrar que o Brasil recebe cerca de 70% dos investimentos de venture capital da América Latina. O país possui fundos de estabelecidos com portfólio robusto.

O Kaszek Ventures, por exemplo, possui participação no Nubank, Loggi, Creditas. A Monashees Capital tem investimentos na 99, Mandaê, Yellow e Rappi. Por sua vez, a Endeavor Catalyst atua na Dr. Consulta, Contabilizei e Meliuz.

Com tudo isso, o Brasil ainda está bem longe de economias avançadas quando se analisa o percentual de capital de risco de acordo com o PIB. Nos Estados Unidos, a relação é de 0,43%, que soma cerca de US$ 84,2 bilhões; no Canadá é de 0,16% (2,7 bilhões); e na Alemanha 0,11 (US$ 3,9bi. No Brasil, a relação é de 0,04%, num total de US$ 900 milhões.

Fonte: Diário do Comércio

Sobre o autor

Wagner Marcelo

Atua profissionalmente como arquiteto de inovação, gerando e fomentando ecossistemas empreendedores e tecnológicos, tendo como missão o desenvolvimento de negócios disruptivos.

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