Em uma época em que predominam notícias ruins para a ciência brasileira, como a queda expressiva de recursos para a área e a ida de pesquisadores para fora do país, a matemática brasileira acaba de proporcionar um alento.
A União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês) aprovou a entrada do Brasil no Grupo 5, que reúne as nações mais desenvolvidas em pesquisa matemática. O anúncio foi feito hoje (25) na sede do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro.
Além do Brasil, mais dez países integram a elite da matemática mundial: Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia.
A candidatura do Brasil para fazer parte do topo do ranking foi apresentada no ano passado pelo Impa e pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) ao organismo que congrega as sociedades matemáticas de países de todo o mundo. Atualmente, 76 nações são membros da IMU, criada em 1920 para promover a cooperação internacional em matemática.
A mudança de classificação dos países é decidida pela IMU após recomendação do comitê executivo. São analisadas informações como a quantidade e a qualidade de programas de pós-graduação e sua distribuição territorial, o total de publicações científicas divulgadas em periódicos importantes e os nomes de destaque na área.
Os países são divididos em cinco categorias por ordem de excelência na lista criada pela União Matemática Internacional. O Brasil ingressou na IMU em 1954 como membro do Grupo 1. Foi promovido ao Grupo 2 em 1978; ao Grupo 3, em 1981; e ao Grupo 4 em 2005
Pesquisa
Para o diretor do Impa, Marcelo Viana, a promoção ao Grupo 5 representa um reconhecimento da qualidade da pesquisa matemática feita no país. “Significa que o conjunto dos países reconheceu o Brasil como uma potência mundial na área de pesquisa matemática”, disse Viana. “É uma conquista coletiva e resultado de uma combinação de fatores e de trabalho de gerações de matemáticos ao longo desses 60 anos”.
Ele também lembrou que essa conquista não teria sido possível sem o apoio governamental com recursos para a pesquisa e a ciência. “Apoio esse que a gente espera que continue”, completou Viana.
O presidente da SBM, Paulo Piccione, destacou a importância das olimpíadas de matemática para a popularização da disciplina no país. “Temos milhões de alunos das escolas no país participando das olimpíadas. Essa difusão geográfica [das olimpíadas] impressionou muito os que avaliaram [IMU]”, disse Piccione. “O Brasil é o único país do Hemisfério Sul que está no Grupo 5”, acrescentou.
A entrada no Grupo 5 ocorre no ano em que o Brasil sediará, em agosto, o Congresso Internacional de Matemáticos, o mais importante encontro mundial da área, que será realizado pela primeira vez no Hemisfério Sul. Na edição de 2014, Artur Avila, pesquisador do Impa, foi o primeiro brasileiro a receber a Medalha Fields, considerada o Nobel da matemática.
“A gente pode fazer ciência de qualidade no Brasil. Esse reconhecimento cria uma obrigação de fazer o máximo que a gente possa e tentar estender isso para outras áreas”, disse Avila. “A gente vê que, às vezes, a ciência é tratada como uma espécie de luxo que quando temos uma crise a gente deve cortar [recursos] porque não é [considerado] fundamental para o país”.
O secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Elton Santa Fé Zacarias, reconheceu que o investimento de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e produzidos no país) na área científica ainda é baixo, mas disse que a grande dificuldade para aumentar esse patamar é fazer com que a sociedade e a indústria invistam mais em pesquisa. “O Brasil produz ciência de qualidade. A gente é hoje um dos 20 maiores produtores de pesquisa, de ciência básica e papers no mundo”.
A secretária-executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, ressaltou a grande necessidade de formação de professores para o ensino básico. “Precisamos formar bons professores de matemática. A pesquisa na área de matemática pode ajudar muito nesse processo”.
Segundo o Impa, em 2006, após ter ingressado no Grupo 4, as publicações científicas do Brasil em matemática representavam 1,53% da produção matemática mundial (1.043 papers). Uma década depois, a produção chegou a 2,35% (2.076 papers).
Fonte: Agência Brasil
Adicionar comentário