Fundada em 1966, em Belo Horizonte, a partir do curso de pré-vestibular Pitágoras, a Kroton começou a escrever seu nome no mercado brasileiro de educação com colégios próprios e os sistemas de ensino adotados por uma rede de escolas parceiras. No início dos anos 2000, veio a guinada para o ensino superior. Com uma cartilha de aquisições, a companhia se tornou o maior grupo educacional do mundo. Depois de fazer sua lição de casa e integrar uma série de instituições, a empresa voltou às suas origens neste ano. Em abril, criou a Saber, holding que reúne seus negócios de educação básica, e desembolsou R$ 4,6 bilhões para arrematar a Somos Educação, dona de marcas como Anglo e Sigma. Esse apetite por consolidação não será, no entanto, a única estratégia para ganhar tração em um segmento que movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano no Brasil. A Kroton começa a adicionar um novo elemento nessa equação: a oferta de um pacote de serviços de gestão para escolas de todo o País.
Batizado de Escola Aliada, o novo modelo inclui processos como contas a pagar e a receber, recursos humanos, sistemas de gestão e de plataformas virtuais de aprendizagem, de marketing e de captação digital. A ideia é assumir todas as rotinas administrativas e financeiras, e liberar a direção dos colégios clientes para pensar única e exclusivamente nas questões essenciais ao negócio. “O que estamos construindo tem potencial para gerar uma disrupção nessa indústria”, afirma Rodrigo Galindo, CEO da Kroton. “E essa proposta não inclui um grande custo adicional, pois já temos essa estrutura para sustentar as nossas próprias operações”, diz o executivo, que enxerga um mercado anual de R$ 21 bilhões para essa oferta. Ele ressalta que a abordagem ainda está em formatação e deve ser lançada oficialmente entre 2019 e 2020.
Para Carlos Monteiro, presidente da CM Consultoria, o plano tem boas perspectivas. “Esse é um modelo comum em países como os Estados Unidos, mas que ainda é inexplorado no Brasil”, afirma. “Terceirizar essa capacidade pode abrir um novo campo muito rentável.” Para ressaltar esse potencial, ele destaca a pulverização do mercado brasileiro, formado, em boa parte, por escolas de pequeno porte e com gestão familiar. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), o País conta com 30,6 mil colégios particulares. Para efeito de comparação, o segmento de ensino superior abrange 2,4 mil instituições. Nessa área, a Kroton detém uma participação de 14%. Já na educação básica, sua fatia é de apenas 1%.
Enquanto estrutura esse novo passo, o grupo trabalha em outras frentes para impulsionar sua presença no segmento. Depois de concluir a aquisição da Somos em meados de outubro, a companhia identificou novas sinergias na operação. “Quando mergulhamos no negócio, revisamos nossa projeção de ganhos para R$ 360 milhões com a integração da Somos”, afirma Mário Ghio, diretor-presidente de educação básica da Kroton. Em abril, quando a aquisição foi anunciada, o montante no radar era de R$ 300 milhões. A projeção atualizada se divide assim: R$ 104 milhões em escolas, R$ 90 milhões da área corporativa e R$ 166 milhões dos negócios que envolvem recursos como sistemas de ensino, material didático impresso e digital, plataformas de aprendizagem e de avaliação, formação de professores, assessoria pedagógica, marketplace de materiais escolares e tecnologia. Nessa última divisão, o plano é integrar os portfólios e investir em vendas cruzadas para ampliar a presença nos colégios clientes das duas empresas.
O foco não está restrito à educação básica. No ensino superior, uma das estratégias é avançar no ensino a distância, com a possibilidade de abertura de até 950 polos em 2019. No segmento presencial, a empresa vai dar maior peso à expansão dos campi, com ênfase nas regiões Norte e Nordeste, que também foram alvo de aquisições recentes. Desde 2017, a Kroton investiu no acréscimo de 65 cidades ao seu mapa de operações, por meio de 71 novas unidades. Desse total, 44 já estão implantadas. As 27 restantes estão sendo estruturadas. A companhia prevê a adição de 200 mil alunos quando essas operações atingirem a maturidade. Em contrapartida, Galindo destaca que boa parte desses centros só começará a gerar caixa a partir de 2020, o que pode pressionar as margens da operação. Para garantir a estabilidade nesse indicador, o grupo está centrando seus esforços na busca de eficiência em frentes como a fidelização dos alunos.
A adoção de recursos digitais e a formação de times multidisciplinares, focados em projetos de curta duração e temas específicos, são algumas das apostas. Uma das aplicações é o uso de dados sobre a evolução dos estudantes para identificar métodos mais assertivos de transmissão dos conteúdos e aprimorar a experiência do aluno. A abordagem já trouxe resultados. O índice de evasão, por exemplo, foi de 12,9% no terceiro trimestre de 2018, contra 13,6%, um ano antes. “Estamos em uma onda de transformação e a tecnologia está mudando a cara da nossa companhia”, afirma Galindo. “Temos muitas sementes plantadas, mas ainda há muitas oportunidades para capturar.”
Fonte: Isto é dinheiro
Adicionar comentário