Na quinta-feira (15), Mark Zuckerberg (34), o presidente-executivo e do conselho do Facebook, conversou com jornalistas pelo telefone para discutir a maneira pela qual a companhia lida com posts problemáticos e os seus padrões comunitários.
Mas a conversa logo saiu do rumo. Por mais de uma hora, o bilionário teve de responder a perguntas sobre como ele e sua segunda em comando, Sheryl Sandberg, buscaram ocultar problemas como a interferência russa no Facebook, e sobre as táticas de ataque da companhia contra rivais e críticos. Em resposta, Zuckerberg defendeu a rede social, Sandberg e o seu histórico pessoal, às vezes em tom desafiador e às vezes de modo conciliatório.
“A realidade de dirigir uma empresa com mais de 10 mil empregados é a de que você não vai saber tudo que está acontecendo”, ele disse em determinado momento.
Mas enquanto Zuckerberg tentava apresentar sua defesa, o furor contra sua empresa se intensificava.
Em Washington, republicanos e democratas ameaçaram restringir as operações do Facebook por meio das leis de defesa da competição, e abrir investigações sobre possíveis violações pela empresa da lei sobre doações de verbas para campanhas políticas. Muitos acionistas intensificaram seu apelo para que Zuckerberg seja derrubado da presidência do conselho da empresa. E ativistas apresentaram queixa à Comissão Federal do Comércio sobre as normas de privacidade da companhia, e criticaram Sandberg, sua vice-presidente de operações, por supervisionar uma campanha sigilosa de ataque a oponentes.
Os protestos surgiram com a publicação de um artigo pelo The New York Times que questionava as táticas do Facebook para lidar com desinformação e outros problemas do site, na quarta-feira (14), bem como a maneira pela qual a companhia trata seus concorrentes e opositores.
“Não é possível confiar no Facebook como fiscal de si mesmo”, disse o deputado federal David Cicilline, de Rhode Island, o líder da bancada democrata no subcomitê antitruste da Câmara dos Deputados. “Essa reportagem chocante deixa claro que os executivos do Facebook sempre colocarão seus imensos lucros adiante dos interesses de seus usuários”.
O gigante da mídia social vem enfrentando uma série de crises desde 2016, quando foi acusado de influenciar o resultado da eleição presidencial americana em favor de Donald Trump. O Facebook admitiu, de lá para cá, que sua plataforma serviu de veículo à interferência russa na campanha de 2016, e teve de enfrentar vazamentos de dados de usuários para uma empresa de consultoria política com sede no Reino Unido, a Cambridge Analytica.
Mas embora o escrutínio do Facebook até o momento tivesse se concentrado em seu modelo de negócios e na maneira pela qual a plataforma promove anúncios e posts virais, as queixas mais recentes se dirigem diretamente a Zuckerberg e Sandberg.
O artigo publicado na quarta-feira pelo The New York Times descreve como Zuckerbeg e Sandberg se omitiram em diversas decisões cruciais de segurança e de políticas públicas, e como postergaram respostas a abusos no Facebook ou tentaram minimizar sua importância. Mais recentemente, o Facebook saiu ao ataque, recorrendo a outras empresas a fim de desviar a atenção na direção daqueles que o criticam e de seus concorrentes. Em um caso, a Definers Public Affairs, uma empresa especializada em pesquisa de oposição política, trabalhou para desacreditar ativistas ao tentar vinculá-los a George Soros, financista bilionário que apoia causas progressistas.
Isso despertou questões sobre a responsabilidade de Zuckerberg e Sandberg pelo acontecido. Zuckerberg exerce controle quase completo sobre a rede social porque detém 60% das ações com direito a voto do Facebook e é presidente de seu conselho.
Na quinta-feira, o conselho do Facebook declarou seu apoio a Zuckerberg e Sandberg. Embora o conselho tenha reconhecido que os dois executivos demoraram a reagir à interferência russa no Facebook, e que conselheiros os pressionaram a agir mais rápido, divulgou um comunicado em que afirma que “é grosseiramente injusto sugerir que eles estavam informados sobre a interferência russa, e ou tentaram ignorá-la ou tentaram impedir investigações sobre o acontecido”.
Em sua entrevista, Zuckerberg ecoou sentimentos semelhantes. “Sugerir que não tínhamos interesse em saber a verdade, ou que queríamos esconder o que sabíamos, simplesmente não é verdade”, ele disse. “Estamos em posição muito mais forte hoje do que em 2016”, acrescentou.
Mas ele admitiu erros, entre os quais o uso da Definers Public Affairs. Ele disse ter encerrado o relacionamento do Facebook com a empresa na noite de quarta-feira, depois de ter descoberto sobre as táticas da companhia de pesquisa.
Zuckerberg disse na entrevista que não estava disposto a renunciar como presidente do conselho. “Não acredito que essa proposta específica seja o melhor caminho a seguir”, ele disse. “Mas estou concentrado em maneiras de criar mais independência em torno de nossos sistemas, de diferentes maneiras”.
Zuckerberg pode ter outro problema em mãos. O Facebook, que cresceu tremendamente como negócio nos últimos anos, vem passando por uma desaceleração. E os anunciantes, que são a corrente sanguínea dos US$ 40 bilhões (R$ 149 bilhões) em receita da empresa, vêm cada vez mais criticando suas táticas.
“Até agora, não importa o que você dissesse sobre o Facebook, não se podia dizer que fosse uma companhia dúplice”, disse Rishad Tobaccowala, vice-presidente de crescimento do Publicis Groupe, um dos maiores grupos mundiais de publicidade.
Mas agora ficou claro que a empresa diz uma coisa e faz outra completamente diferente, disse Tobaccowala. E isso é muito difícil para um anunciante.
Em Washington, democratas e republicanos criticaram o Facebook. O senador Rand Paul, republicano do Kentucky, disse em entrevista à rede de notícias CNN que estava preocupado com o poder do Facebook como “monopólio”.
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